A capoeira, uma manifestação cultural que une luta, dança, música e filosofia, tem uma história rica e complexa que se entrelaça profundamente com as raízes do Brasil. Criada por africanos escravizados em solo brasileiro, essa arte transcendeu suas origens e, hoje, é praticada em diversos cantos do mundo, sendo reconhecida como um patrimônio cultural imaterial da humanidade pela UNESCO desde 2014.
Kelvin Moreira Gomes da Silva, mais conhecido no universo da capoeira como Tiziu, é um dos grandes exemplos de como essa arte pode moldar vidas e transformar realidades. Tiziu, que iniciou sua jornada na capoeira aos 7 anos de idade, hoje, com 35 anos, acumula 28 anos de prática, um vasto currículo de campeonatos conquistados dentro e fora do Brasil, e um trabalho sólido na difusão da capoeira em diversas frentes.
A capoeira, segundo Tiziu, vai muito além do que se vê nas rodas e nos eventos. “A capoeira é uma arte maravilhosa, é a única atividade física brasileira criada no Brasil. Ela tem um poder incrível de ensinar cultura e história. A capoeira se mescla com a história do nosso país”, afirma com convicção.
Tiziu lidera o Instituto Cultural Onire, uma escola de capoeira localizada na Zona Norte de São Paulo, mais precisamente no bairro do Jaçanã. Ali, ele e sua equipe desenvolvem um trabalho diferenciado, com uma metodologia única que classifica os alunos em níveis, desde os pequenos “camaradinhas” de 3 a 6 anos, até os adultos, que são divididos em iniciantes, intermediários e avançados. Essa abordagem estruturada permite que cada aluno receba uma formação adequada ao seu nível de desenvolvimento, garantindo uma evolução contínua e sólida na arte.
Além das aulas regulares, Tiziu também se dedica a promover a capoeira como uma profissão viável e respeitada. “Eu viajo o Brasil e o mundo ministrando aulas, técnicas de capoeira e palestras sobre a profissão de capoeirista. Ensino como o capoeirista pode ser mais profissional, atribuir valor ao seu trabalho e explorar diversas formas de atuação, seja como professor, personal trainer, ou até na confecção de instrumentos”, explica.
A capoeira, com suas raízes fincadas na resistência e na luta pela liberdade, encontrou no ambiente escolar um campo fértil para florescer. Tiziu destaca a importância da capoeira nas escolas: “A criança que faz capoeira na escola, com toda certeza, será um adulto mais flexível, com menos preconceito e que valoriza a diversidade. A escola é o ambiente onde a criança tem a possibilidade de ser apresentada à cultura, e a capoeira, sendo a expressão cultural mais genuinamente brasileira, deve estar presente nas escolas para desenvolver a psicomotricidade e os laços afetivos, cognitivos e motores dos alunos.”
No Brasil, estima-se que milhões de pessoas pratiquem capoeira, e esse número continua a crescer, tanto no país quanto no exterior. Instituições como o Instituto Cultural Onire desempenham um papel crucial na formação de novos capoeiristas e na disseminação da capoeira como uma arte que não apenas preserva a história, mas também molda o futuro.
Apesar de sua importância cultural, Tiziu lamenta que a capoeira ainda não receba o reconhecimento merecido. “Muitas vezes, quando mostramos um berimbau, as pessoas perguntam se é um arco e flecha. Isso é muito triste, pois mostra que muitos brasileiros não conhecem sua própria cultura. A capoeira deveria ser mais valorizada, principalmente nas escolas, onde ela pode educar as crianças e ajudar a construir uma sociedade mais justa e consciente”, finaliza.
A história de Tiziu é um testemunho do poder transformador da capoeira. Seu trabalho, que une tradição e inovação, continua a inspirar novas gerações de capoeiristas, assegurando que essa arte, que nasceu nas senzalas e resistiu à opressão, continue a ser um símbolo de liberdade e resistência para o mundo.