Estudo publicado pela revista científica Lancet apontou que ouvir música auxilia os pacientes durante procedimentos cirúrgicos e consultas — e também ajuda os médicos. Desde o período dos indivíduos nômades, a melodia faz parte da jornada de desenvolvimento humano, sendo responsável por estimular a sensação, cognição, movimentação e emoção e estando conectada com a área emotiva do indivíduo.
Além disso, o cérebro controla os estados mentais e fisiológicos, portanto, nossos sistemas nervosos são conectados em duas direções: processos fisiológicos, ligados a respostas emocionais e cognitivas; e os psicológicos, relacionados a mudanças no cérebro e no corpo.
Psicologia da melodia
No âmbito da psicologia, o especialista discorre sobre as relações da música com estados cognitivos e emocionais nas pessoas: “Em particular, as neurociências têm se dedicado a entender o papel da música sobre os estados fisiológicos e cerebrais dos organismos, o que nos ajuda a identificar e compreender o funcionamento desses correlatos comportamentais importantes”. Ele também cita outras linhas de pesquisa, como o domínio musical em si, que é um processo de aprendizagem e de comunicação, e a música entendida como um elemento de identidade social.
Na opinião de Tiago Nogueira, pesquisador do Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política da USP, toda melodia é uma espécie de texto que mimetiza as curvas que a voz humana produz durante a fala e essa musicalidade está na origem da frase melódica. Portanto, ele diz que o modo como o compositor escolhe retratar determinadas experiências humanas — interjeições que expressam alegria ou dor, gritos de horror diante do perigo ou da morte, emissões sonoras agudas e lentas que lembram a vivência introspectiva de uma falta — tudo isso é expressado na composição.
O especialista cita As Quatro Estações de Vivaldi, pois a obra apresenta paisagens sonoras que imitam a natureza e funcionam como suporte para a memória do ouvinte e também As Missas de Bach, que são carregadas de sentimento e remetem à transcendência: “Os sentimentos provocados são sempre singulares, pois são desdobramentos daquilo que tais representações significam para o ouvinte”. Segundo ele, por um lado é possível encontrar impressões de lembranças ancestrais e, por outro, as ações do ouvinte diante disso é que definem os efeitos musicais.
“Isso acontece com o amor da música romântica, a fúria e a violência do rock etc. Cada sentimento remete ao sentido individual que cada um dá a ele. Nessa perspectiva, a forma como a música muda nosso estado de espírito está totalmente atrelada ao modo como somos afetados pela linguagem”, desenvolve.