Perfil

Eduardo Micheletto

Cotidiano

08/07/2024

Mãe Edelzuita: 80 anos de Sacerdócio - Uma Vida de Fé e Coragem na Defesa da Tradição

No dia 12/12/1934, nasce uma criança com uma missão gigante jamais imaginada devido às circunstâncias da época. Sim, essa criança é Mãe Edelzuita, nossa Agba, nossa tia baiana que reside na cidade do Rio de Janeiro desde fevereiro de 68 e é lá que está seu Ilê Asé.

Vamos voltar um pouco e contar essa história tão rica em detalhes como ela de fato merece...

A menina Edelzuita perdeu sua mãe aos 2 anos de vida e seu pai aos 9 anos. Aquele ano de 44 teve dois fatos que até hoje, 80 anos depois, ainda lhe arrancam lágrimas. Em 24 de março de 1944, seu pai João dos Santos passou para a menina Edelzuita, com apenas 9 anos de vida, a missão de cuidar, zelar, amar e preservar os otás de Xangô vindos da antiga Daomé. Uma semana depois, no dia 31 de março, seu pai faleceu, deixando-a sozinha no mundo. Seu mecanismo de sobrevivência é a fé, a devoção e a obediência. Mãe Edelzuita, ainda de luto, foi viver com sua avó paterna e sua tia. Aos 9 anos, de luto por ter perdido seu pai, sua responsabilidade agora era trabalhar para comer, uma vida de sofrimento que deixou marcas em seu corpo até os dias de hoje, de tanto que apanhava.

Ainda de luto, ela vai para o Gantois e, assim que passa o período de luto pela morte de seu pai, ela se inicia para Orisá, sendo o barco do centenário do Gantois.

Tendo sua mãe de santo, a saudosa Mãe Menininha, como exemplo, pois sempre foi um ser social e político, com sua doçura de Oxum, Mãe Menininha sempre conseguiu o que quis, sendo o Gantois o primeiro terreiro licenciado para fazer suas festas de portas abertas. Lembrando que, nesta época, as religiões de matrizes africanas eram duramente perseguidas não só pela sociedade, mas pela polícia. Não poderíamos falar de Mãe Edelzuita sem falar de sua escola, Gantois, e de Mãe Menininha. Dito isto, quando atinge certa idade, nossa Agba Mãe Edelzuita vem viver definitivamente no Rio de Janeiro e inaugura seu Ilê Asé no dia 22/06/1968, um ano demasiado conturbado por todo cenário caótico que estava inflamado não só no Brasil, mas no mundo. Eram tantos acontecimentos que este ano ficou conhecido como o ano que não acabou e é neste ano, no auge do regime militar, das perseguições aos artistas, o silenciamento das massas, a censura da imprensa, que o Ilê Obá N'lá nasce.

Protagonista e pioneira de muitas lutas, Mãe Edelzuita, hoje com seus 89 anos, segue incansável na defesa dos direitos da liberdade religiosa, da tradição do Orisá, relatora e idealizadora de leis no estado de São Paulo e no Brasil. Mãe Edelzuita é uma verdadeira guerreira da fé e faz jus à promessa que fez a sua mãe de santo. Mãe Menininha perguntou a Mãe Edelzuita se ela seguraria a espada junto dela ou se ela se acovardaria. Muito valente e uma autêntica filha de Osogyan, nossa Agba prometeu segurar a espada e não se acovardar, e ela segue até os dias de hoje, segurando o bastão e indo para a luta toda vez que é solicitada.

Texto de Carla Mayara Iyaegbe do Ilê Obá N'lá.

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